A prática da caligrafia implica a interiorização de valores éticos e estéticos fundamentais para a plena fruição da escrita e da leitura. Se escrevemos para sermos lidos, quer por nós próprios, quer pelos outros, então devemos fazê-lo correctamente. Conhecer as regras do código, cumprir as regras gráficas e ortográficas instituídas para a prática da escrita, garantirá uma maior facilidade de comunicação e interacção com os outros.
A nossa identidade gráfica, o nosso estilo único na escrita, advirá então da entrega com que nos lançamos a um meio e a um suporte que fixe os nossos pensamentos. A dedicação ao desenho da letra, mais ou menos ornamentada, e a destreza com que o fazemos, define a nossa competência escritora, a velocidade e o ritmo a que nos é possível expressarmo-nos através da escrita.
Neste contexto, quanto mais escrevermos, melhor escreveremos.
A que hoje se designa como "letra de imprensa", mas manuscrita, trata-se de um tipo de escrita com uma produção mais morosa do que a escrita cursiva pois implica que a caneta levante e pouse no papel mais vezes não oferecendo, ao escritor, um movimento contínuo. Obriga a uma disciplina maior no espacejamento entre letras uma vez que este é relativo ao definido entre palavras. Uma vez separadas, o início de cada letra obriga ao repensar da sua escala relativa.
A escrita cursiva permite uma maior velocidade e uma discriminação mais clara de cada palavra ou unidade gráfica que é desenhada com as letras interligadas. É o tipo de manuscritura que oferece maior grau de liberdade na construção da caligrafia pessoal já que o desenho da letra está mais dependente da fluidez e orientação do movimento, da distribuição no espaço e da pressão da caneta na construção de cada sinal gráfico. Além disso, na escrita do tipo cursivo as letras desenham-se de forma distinta consoante a sua posição na palavra o que permite definir mais variações de um sinal gráfico para um mesmo som.
Apesar de a letra de imprensa ser mais facilmente reconhecida, porque é mais frequentemente utilizada nas edições impressas, o importante é compreender que os grafemas, ainda que desenhados de modo diferente, representam igualmente os sons de uma língua, ou seja, cumprem a mesma função comunicativa.
Independentemente do grau de habilidade e de autonomia adquiridos, desenhar letras, experimentar estilos, ritmos, escalas ou ornamentos, pode ser um prazer sem idade.

Para além destes, há sempre lápis esquecidos nas gavetas, encontrados no chão e gratuitos na IKEA. E qualquer pedaço de papel pode formar um caderno para experimentar e aperfeiçoar uma competência básica como é a escrita.


Boa escrita, boa leitura e boas férias.
Até Setembro!
Helena Gonçalves