«Quando o despertador tocou, a casa inteira parecia ainda adormecida. Lavínia sentou-se na cama e, de repente, lembrou-se que o Natal estava à porta.
«Meu Deus», exclamou, «tanta coisa para fazer e eu aqui deitada!»
Não tardaria a ver a Mãe chegar a pedir-lhe o pequeno-almoço, ou o Pai a resmungar porque queria ter ficado mais tempo na cama. «Adultos...», pensou, «é preciso ter muita paciência com eles...»
A Mãe andava agora com aquela mania de que o Pai Natal não existia! Lavínia sorrira, e cheia de boa vontade lá lhe explicara que isso era mentira, que ela não devia acreditar em tudo o que lhe diziam no emprego.
O emprego era para onde Lavínia levava a Mãe e o Pai todos os dias. Lá estavam outros adultos, e todos brincavam muito uns com os outros, até que chegava o momento de voltarem para casa. Depois era a hora de tomar banho, Lavínia contava-lhes uma história e eles adormeciam.
Mas nestes últimos tempos, com o Natal à porta, andavam muito excitados.
- O Pai Natal não existe. Eu sei - dizia a Mãe.
- O Pai Natal é mentira. Toda a gente sabe - dizia o Pai.
Então Lavínia, cheia de paciência, contava-lhes a história verdadeira do Pai Natal, e todo o trabalho que ele tinha na noite de 24 de Dezembro, para escorregar pelas chaminés abaixo e deixar, na cozinha de cada criança, aquilo que cada criança tinha pedido.
- E como é que ele cabe na chaminé? - perguntava a Mãe.
- Não se está mesmo a ver que é mentira? - dizia o Pai.
Lavínia sorria, sorria sempre. Eram tão engraçados, os adultos! O pior é que o tempo passava muito depressa. Não tardariam a ficar crianças, e então perdiam a graça toda. Era aproveitar agora. [...]»
2 histórias de Natal, de Alice Vieira e João Caetano (ilustrador), Caminho.
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